quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Setembro: Mês da Bíblia.

Todo ano, no mês de setembro, a Igreja dá uma atenção singular à reflexão sobre a Palavra de Deus. Não que não o faça durante os outros meses do ano, mas que o faz de maneira singular neste mês para convidar os fiéis a um maior aprofundamento no estudo da Palavra de Deus, tendo como exemplo S. Jerônimo, de quem a Igreja faz memória no dia 30 de setembro. S. Jerônimo dedicou toda sua vida ao estudo para a tradução das Escrituras das línguas originais para a língua popular de sua época, o latim. Assim como fez S. Jerônimo, a Igreja procura levar os tesouros das Sagradas Escrituras ao povo.
A Bíblia é o conjunto de todos os livros inspirados do Antigo e do Novo Testamento. É a coleção completa de tudo o que foi escrito sob a inspiração do Espírito Santo.
A palavra bíblia vem do grego “biblós”, que significa livro. “Bíblia” vem a ser o plural da palavra “biblós”, isto é, “Livros”.
Quando dizemos que os livros Bíblicos são inspirados, na verdade, dizemos que Deus, através de seu Espírito Santo, inspirou os autores humanos (hagiógrafos) a escreverem e transmitirem também oralmente, aquilo que Ele quis. Contudo, respeitando o saber, a cultura, as limitações dos autores, assim como, a ciência da época. A Bíblia é um livro que contém verdades religiosas, não interessa revelar verdades científicas ou qualquer outro tipo de verdades que não sejam religiosas.
O Antigo Testamento (AT) abrange momentos literários a partir de 1300 até mais ou menos 50 a.C. O Novo testamento (NT) consiste em livros e cartas compostos no espaço de meio século, isto é, dos meados do século I d.C. até o início do século II d.C.
O Antigo Testamento é a Aliança de Deus com o povo judeu, e o Novo testamento é a Aliança de Deus selada pelo sangue de Jesus Cristo com a humanidade. Desse modo não é errado chamar o AT de Antiga Aliança e o NT de Nova Aliança.
Por ser Deus o autor da Bíblia, há nela uma admirável unidade, mesmo tendo os vários livros escritos em tempos, lugares e por pessoas diferentes. “Há uma linha de pensamento”, que vai da primeira página até a última: a vinda de Jesus.
E a Bíblia protestante? Que dizer?
A Bíblia protestante tem diferenças essenciais, no AT, da católica.
A Bíblia cristã tem 73 livros (46 do AT e 27 do NT) , mas a bíblia protestante tem 39 do AT e 27 do NT, isto é 66 livros.
A controvérsia sobre o cânon (lista) dos livros inspirados tem origem no judaísmo tardio:
No ano 100 d.C. os judeus reunidos em Jâmnia, fizeram uma espécie de concílio que visava “barrar” a entrada dos livros do NT na Bíblia hebraica. Então, para isso, estabeleceram critérios de inspiração assaz preconceituosos e arbitrários:
– Que os livros não tenham sido escritos fora da terra de Israel;
– Que não tenham sido escritos em outra língua que não seja hebraico – aramaica;
– Que não tenham sido escritos depois de Esdras e Neemias;
– Que não contrariem a Lei de Moisés.
Alguns livros bíblicos do AT não respeitam tais critérios, pois, de alguns só se tem cópias gregas e não mais os originais hebraicos, outros foram escritos depois de Esdras e Neemias, e outros foram escritos fora da terra de Israel. Os livros do NT, para eles, contradizem a Lei de Moisés, não foram escritos em hebraico e são de época posterior a Esdras e Neemias.
Por causa disso, foram rejeitados os livros de Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, 1 e 2 Macabeus e os capítulos 10-16 de Ester e 3.13 e 14 de Daniel.
Ora, os judeus de Alexandria, próspera comunidade judaica de cultura helênica (grega), além de terem traduzido os livros do AT para o grego, não seguiram os critérios preconceituosos do Concílio de Jâmnia.
É preciso dizer que os Apóstolos já haviam morrido quando houve o Concílio de Jâmnia, com exceção de São João que ainda estava vivo. Supõe-se, portanto, que eles utilizaram todos os livros bíblicos, até os que foram rejeitados pelo concílio de Jâmnia, como livros inspirados.
Vários Concílios Regionais se pronunciaram sobre o cânon Bíblico, afirmando que o cânon verdadeiro é o maior, utilizado até hoje pelos católicos. E o Concílio de Trento (séc. XVI) definiu dogmaticamente o cânon maior. O documento mais antigo que mostra a lista dos livros sagrados exatamente como está definido no Concílio de Trento, incluindo livros rejeitados pelos judeus e protestantes, é o Cânone de Muratori, do ano 200 d. C.
Os protestantes porém, querendo contestar a Igreja e o Concílio de Trento, aceitaram o cânon menor dos judeus de Jâmnia. Porém, Lutero, fundador do Protestantismo, colocou os livros que os judeus rejeitaram como apêndice de sua bíblia protestante. Os protestantes posteriores é que retiraram os livros.
Os livros bíblicos, porém, vieram depois da Tradição oral e fazem parte da Tradição. Quando falamos de Tradição, nos referimos à pregação oral e apostólica da Revelação e não a tradição humana que é mutável. A escrita veio depois, pois a arte de escrever no Oriente antigo era cara e rara. Ex.: os primeiros escritos do Antigo Testamento começaram a ser redigidos + ou - 500 anos após Abraão. E os primeiros escritos cristãos vieram mais ou menos 30 anos após a morte de Jesus. Logo, Tradição oral é a pregação da revelação divina, inspirada pelo Espírito Santo, vinda a nós pelos Apóstolos, conservada pela Igreja.
A Bíblia brota da Tradição e a completa. Logo, Bíblia e Tradição oral são inspiradas por Deus. Elas têm o mesmo valor. (cf. 2Tm 1,13; 3,16; 2,1-2; 2Ts 2,15; Jo 20,30; 21,25).
A Bíblia e a Tradição foram confiadas por Cristo a sua Igreja (cf. Lc 10,16). Portanto, só a Igreja pode interpretar legitimamente a Bíblia e não qualquer um, como alguns pensam (cf. 2Pd 1,20; 3,15-16; Mt 12,23-29; At 8,30-35). E é por cada um querer dar a sua interpretação que surgiram ao longo dos tempos as heresias e as várias seitas.
A Igreja quer que conheçamos mais a Palavra de Deus, a amemos, oremos com ela, a meditemos e a cumpramos em nossa vida.
Pe. Giovane Silva de Santana

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